Esta imagem está aqui por causa do texto abaixo. Ou será o contrário? |
quarta-feira, 5 de março de 2014
A anedota
Na
“Última ceia”, de Leonardo da Vinci, logo após Jesus anunciar que um de seus 12
apóstolos iria traí-lo, as reações foram intensas e bastante diversas.
Falava-se
muito com as bocas – algumas cheias – e as mãos, bem ao estilo italiano, apesar
de tudo acontecer no Oriente. Expressões como “Eu nunca faria isso, senhor!”,
ou “Quem seria capaz disso?”, ou “O quê?” ou “Preciso de mais uma taça de
vinho!”, podiam ser ouvidas a certa distância. Obviamente, todos quiseram saber
quem poderia fazer tal coisa contra o mestre. Este, então, lançou um desafio a
seus inquietos seguidores:
-
Vou lhes contar uma anedota, e aquele que não conseguir controlar o riso, será
meu pusilânime.
Tomé
perguntou o que significava “pusilânime”, mas nenhum colega se animou a
responder. Se bem que não adiantaria, pois Tomé, provavelmente, desconfiaria da
resposta.
De
qualquer maneia, Jesus iniciou:
-
Um homem embriagado estava sentado no jardim, quando vê um funeral ao fundo da
rua e pensa: “Vou ver o que é aquilo”. Quando chegou, a viúva gritava:
-
Ai querido, tu vais para onde não há comida, vinho, móveis, nada!
E
o bêbado disse:
-
Espere aí! Para a minha casa ele não vai!
Apesar
de não ser uma das melhores histórias que o grande líder contava, um de seus
seguidores riu demais: Judas. Jesus se decepcionou com a descoberta, claro, mas
ficou também preocupado, pois Tomé e João pareciam não terem achado graça por
não terem entendido a piada. Como o senhor podia confiar seu legado a pessoas
tão lentas? E olha eu já era a segunda de Tomé naquela noite!
terça-feira, 4 de março de 2014
Borboletas
O
que Ana queria mesmo era ter uma borboleta.
A
vida, para ela era muito simples: a pequena casa da avó, o córrego com peixes
brilhantes, a vaca leiteira.
A
avó tinha um filho, que morava com ela, pois o marido tinha se perdido.
Poucas
coisas eles tinham, mas parece que quanto menos se tem, mais leve é a vida. Ana
não tinha brinquedos. Ela possuía, no entanto, o vento, árvores, insetos
coloridos. Porém, tudo isso era dela e, ao mesmo, tempo do mundo. Sua avó
conseguia ainda lhe fazer, em uma velha máquina de costura, sacos de pano, onde
Ana entrava e escorregava pelos morros. Seu tio lhe trazia frutas das
plantações. Só que ela começou a desejar algo que fosse seu, de verdade.
O
casulo foi se formando, no jardim, atrás da casinha, onde todas as manhãs,
borboletas se reuniam, no seu silêncio multicor.
E,
de repente, Ana se viu encantada, em meio a tanta delicadeza; sentiu uma
profunda identificação com o modo de viver das borboletas do jardim. “Bem que
eu queria ter uma pra mim”, ela disse.
Então,
todas as manhãs, ela acordava, tomava seu café-com-leite e ia correndo se
encontrar com suas amigas. Às vezes, Ana não se continha e se aproximava dos
canteiros, misturando-se às roseiras. As borboletas consideravam Ana, uma flor,
e pousavam em seus braços. Era uma festa! “Por que não ter uma borboleta?”, ela
pensou. Seria tão bom! Quando fosse o momento da revoada, uma permaneceria. A
menina e sua companheira alada trocariam ficariam à beira do riacho, ensinariam
coisas uma para outra, trocariam confidências, voariam.
Chegou
o dia! Com todo o cuidado, Ana fechou uma borboleta em suas mãos, fazendo com
que as duas entrassem no casulo de onde havia saído.
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