quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Visão

olhou para o look dela e
viu porque tantos
olhares a observavam. 

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

A gata e a coruja

Aproximava-se o momento daquela movimentação geral; cada animal procurava ansiosamente seu lar, juntar-se aos seus. 18 horas. Em meio ao agito todo, do vem e vai, esbarram-se gata e coruja – era uma coruja macho. Aquela, a princípio, nada entendeu: “Quem esta coruja pensa que é para esbarrar em mim deste jeito?”, pensou ela; desconfiada, fitava os grandes olhos de coruja. Esta, apenas parou com toda sua aparente tranquilidade (pois por dentro estava tão agitada quanto os outros que corriam) e, com olhos de coruja, sorriu.
Pouco fazia diferença para a gata e a coruja aquela correria toda. Na verdade, seus lares nem abrigariam tanto quanto aquele repentino encontro, pois, de fato, não haviam abrigado verdadeiramente a cada entardecer há muitos anos.
Muitos animais observavam o encontro com cobiça; uns com inveja, pois não se permitiam esbarrar por aí; outros com frieza, pois nada sentiam; outros ficavam curiosos; alguns puros e de bom coração, sorriam. Já o elefante, que acompanhava de longe a cena, pensava: “Engraçado, jurava já ter presenciado este encontro antes, devo mesmo estar virando um velho maluco”. De fato, o elefante com toda sua sabedoria, sensitividade e espiritualidade estava certo, este encontro já acontecia há centenas de anos, eles não sabiam, mas havia neles a capacidade ímpar de sentir.
Aos poucos, gata e coruja aproximavam-se; a gata caminhava desconfiada em círculos, como em uma dança envolvente, queria se apropriar de cada detalhe da coruja que silenciosamente achava aquilo um tanto interessante. Logo a coruja também se pôs a investigar a gata e tentava transcender o silêncio falando de variadas formas que a linguagem possa permitir.
Gata e coruja passaram a se encontrar todos os dias. Ao entardecer procuravam ansiosamente uma pela outra e a cada encontro cresciam, uniam-se, aprendiam e construíam um vínculo que tomou o lugar de um lar: a cada encontro abrigavam-se. Não demorou muito para que a coruja virasse luz. A gata admirava tanto a coruja que a achava o animal mais cativante que já havia conhecido; ela queria que os outros animais soubessem quem de fato era a coruja, tão sincera, simples, de bom coração, respeitosa, cuidadora, fiel; a coruja, porém, nem mais se importava, apenas bastava poder compartilhar sua sabedoria.
A gata também era admirada pela coruja, que nunca mais deixou de querer sua doce presença. Era, para a coruja, uma gata diferente de todas as outras gatas; era sensível, protetora, preocupada, era linda e tinha um pelo macio, um jeito envolvente e apaixonante; mas era também fiel, leal, cuidava maternamente daquele lar e não iria mais embora.
Então coruja e gata passaram a cuidar uma da outra pelos restos dos anos. E a cada dia 06, às 18 horas, elas festejavam.
Reza a lenda que muito se desejou que o encontro não mais acontecesse, mas a gata e a coruja eram muito fortes. E de bom coração.
(Fernanda Balem Tagliari)