Sempre me interessou captar o momento.
Irrita-me o caráter fugidio das coisas.
Sempre me irritou, na verdade. Desejo o instante. Almejo a fração de segundo.
Entendo que a fotografia “eterniza
momentos”, como se diz. Mas não gosto de fotografias: elas raramente são
naturais e tentam esconder aquilo que quase nunca somos. Quando se posa para
fotos, é comum vermos pessoas em situação de antítese, meio que tentando
demonstrar algo que o olhar contradiz. Sei quem é Sebastião Salgado, reconheço
a arte fotográfica, mas ela não satisfaz o anseio ao qual me refiro.
Quero o sussurro um pouco anterior ao
clímax do prazer, a lágrima rápida e inevitável que a cena de um filme antigo
faz brotar, o sorriso que a criança deixa escapar, as luzes fugazes de um show
de rock, o prazer do vinho e da massa, a alegria levemente (ou não) embriagada
da reunião de amigos, o olhar vago e amendoado após leitura de Machado, o
brilho na troca de olhares com meu amor.
Tudo se repete? Não! E não tenho paciência
para esperar.
Consigo, inclusive, sentir nostalgia do
sublime momento está acontecendo: é saudade do presente. Pensando bem, isso
pode até dividir espaço com o que tanto prezo. Mas se eu conseguisse congelar o
instante, tudo seria mais fácil.
Existe a prática da máscara mortuária, que
é guardar uma recordação de alguém que já se encontra inerte. Eu não poderia
usá-la como metáfora, pois, como se vê, não quero congelar aquilo que congelado
está. Outro tipo de gesso, no entanto, seria de grande valia. Um gesso que
moldasse as circunstâncias que, para mim, não deveriam passar.
Porém, ninguém vive de paliativos.
Ademais, o molde é sempre uma representação, um simulacro do real. Percebe-se
que tudo é uma questão de tempo, e com ele não se mexe, não é? Talvez. “O tempo
é um ponto de vista do relógio”, disse Mario Quintana.