Quer
escrever, mas o papel em branco parece-lhe assustador. Pega o que precisa,
senta no sofá e começa a tentar ter ideias. Imagina cenas, personagens,
desfechos. Rabisca três inícios diferentes.
Come unha, levanta, anda, abre a geladeira, come uma maçã e uma massa.
Que difícil que é. Talvez se fizesse algo do tipo fluxo de consciência. Não,
soaria meio manjado. Ou quem sabe uma coisa bem crítica – tanta ladroagem na
política.
É
interessante como alguém tão leitor não consegue unir pensamentos coerentemente
para montar uma história. Uma luz:
metalinguagem seria o caminho perfeito. Nada como um meta-texto para preencher
o vazio. É só dizer o que deveria e não deveria haver em um bom texto. Só que,
na verdade, não gosta desse tema. Detesta, aliás. Acha tagarelice demais.
A
vontade de se tornar um escritor é antiga. Na época da faculdade, porém, ela
cresceu. Ficava embevecido ao ouvir histórias sobre grandes obras literárias,
contadas pelos professores. Certa vez
até perguntou para uma professora do curso de Letras se ela escrevia. “São
coisas diferentes”. “Como assim? Então quem trabalha com isso não é capaz de
produzir?”. Demorou até que compreendesse. Agora sabe perfeitamente o que
aquilo queria dizer.
No
fundo, a causa real dessa dificuldade é a seguinte: não admite algo ruim. As
dezenas de autores de altíssima qualidade que já leu, desde a infância, fizeram
nascer um espírito crítico que o reprime mesmo só de pensar em escrever uma
história fraca. Para ser sincero, possui, bem no fundo da memória, uma boa
trama, que deu conta de inventar com o tempo. Uma carta na manga. O duro é
materializá-la. Só que a julga muito trivial. Além do que, o final está
incompleto.
Mas
uma coisa é certa, metalinguagem está fora de cogitação.