quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Os inimigos do silêncio


Rainer Maria Rilke,    em  Cartas a um jovem poeta,  seu mais conhecido     livro,  diz  a  seu interlocutor, um poeta iniciante e inseguro, que a escrita deve ser  uma   necessidade.  Se for assim, tem razão de ser.
Concordo que ninguém deve se reprimir diante de um desejo, neste caso, de produção literária. Mas tenho ressalvas em relação àqueles que publicam qualquer coisa que escrevem. Os autores e os editores poderiam ser mais criteriosos antes de fazer com que leitores percam tempo diante de um texto incipiente e a natureza sofra com árvores de menos e lixo de mais.

Há casos de pessoas extremamente cuidadosas e que não deixam qualquer coisa virar livro. Horácio, um pensador romano que escreveu sua Arte poética, dizia que, para saber se um texto tem qualidade e potencial para se tornar um clássico, é só guardá-lo em uma gaveta e esperar nove anos. Após esse tempo, se as palavras ainda têm sentido, é porque são dignas de irem a público. Obviamente, isso é uma metáfora para separar o relevante do fraco (ou seria “frasco”, por causa da superficialidade?).  
O filme americano Encontrando Forrester conta a história de um idoso – Willian Forrester – que vive isolado em seu apartamento, quase sem contato com o mundo exterior. E ele tem outro dado biográfico peculiar: escreveu na vida somente um livro. Entretanto a obra é referência no cenário acadêmico. O “ermitão” acaba sendo descoberto por um adolescente com aspirações literárias. Os dois, então, dividem a paixão pela escrita, bem como suas angústias e medos. O rapaz fica intrigado pelo fato de que, mesmo seu amigo sendo sucesso de público e crítica, não se interessa em continuar a carreira. A resposta é bem simples. Ele não encontrou mais nada que valesse a pena.
A (velha) verdade é que a quantidade realmente não importa na literatura. Manuel Antônio de Almeida, por exemplo, só precisou de um romance para entrar para a história. Por ter tido morte prematura, ele teve tempo de publicar, unicamente, Memórias de um sargento de milícias. É certo que não foi por escolha, mas será que, se tivesse continuado, conseguiria manter o mesmo nível de inovação de seu famoso romance? O contemporâneo Raduam Nassar teve o que dizer em três oportunidades. E disse. Duas delas são os incríveis Um copo de cólera e Lavoura Arcaica, dois momentos que podem deliciar qualquer leitor. Raduan hoje vive em um sítio e parou de publicar.
Existem ainda os que até publicam bastante, entretanto acabam tendo seus nomes associados a um livro somente. São os casos de Raul Pompéia e O Ateneu, Bernardo Guimarães e A escrava Isaura, Aluisio Azevedo e O cortiço, entre outros. Nem todo mundo tem tanto a dizer quanto, por exemplo, Machado de Assis, Fernado Pessoa, José Saramago, Clarice Lispector e Guimarães Rosa. Mas, na falta de boas ideias, é só ficar quieto e enonomizar tudo e todos. Eu adoro o silêncio.