domingo, 20 de outubro de 2013

A bênção, Vinicius

Escrevo sobre Vinicius de Moraes um dia depois de seu centenário. Devia ter feito ontem. É que meu tempo também é quando.
E achei perfeito o dia de ontem ter sido um sábado. Combina bem com Vinicius. Pedro Nava, em suas memórias, ao falar do amigo carioca, associa-o ao momento mais boêmio de sua juventude, em Belo Horizonte. E, a propósito, foi em noite de sábado que Nava, com seus amigos, adentrou pela primeira vez um mundo que não lhe pertenceria. As agitações noturnas dos tempos universitários lá ficaram, não acompanharam os anos trabalhosos que o reumatologista Pedro Nava iria enfrentar. O médico e memorialista achava que Vinicius era o homem mais livre que ele conhecera. Drummond, que, aliás, participava do mesmo grupo de Nava, dizia que queria ter sido Vinicius. Talvez, por causa deste sentimento de liberdade que ele inspirava nos outros.
Chico Buarque, no filme que leva o nome do poeta, faz a seguinte pergunta: “Onde estaria Vinicius de Moraes hoje em dia?” A indagação é no sentido de que o desprendimento com o qual ele levava a vida, provavelmente, não caberia na mesquinhez da atualidade. Ainda na referida película, Edu Lobo revela que seu parceiro musical – Vinicius era um sujeito de parcerias (musicais e amorosas, diga-se de passagem): ele agregava, como um ímã, uma antena, uma luz incandescente acesa – ligava para, simplesmente, perguntar como as pessoas estavam.
Por outro lado, Toquinho diz ter aprendido com seu mestre a ser disciplinado, respeitar horários, calendários. Isso pode parecer antagônico, eu sei. Mas para que paradoxo maior do que pensar um ser humano tão solto foi o melhor sonetista do Brasil? O soneto é rigoroso, porém com Vinicius ele entrou no samba, aprendeu a permanecer comportado, com o máximo de leveza, sensibilidade e alegria que ele podia ter.

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