terça-feira, 7 de maio de 2013

"Via-Láctea": um novo caminho no Parnasianismo

Os parnasianos já foram bastante criticados por muitos, por manterem preocupações demasiadas em relação à forma dos seus poemas, em detrimento do conteúdo. Em parte tal afirmação procede, quando lemos, por exemplo, Vaso Chinês, do Alberto de Oliveira. No entanto, ao nos deparamos com certos textos de Olavo Bilac, por exemplo, percebemos que o Parnasianismo pode ir além de meras descrições de objetos e descobrimos o porquê de Bilac receber a alcunha de "Príncipe dos poetas". O livro Via-Láctea mostra bem essa ideia. É claro que, nele, certos preceitos parnasianos estão presentes: a obra é de sonetos (uma poética forma clássica), há a presença de versos decassílabos etc. Mas a monotonia de um vaso sobre uma cômoda dá lugar a momentos de inspiração e beleza, com a ótima combinação de palavras, característica de Bilac.
Talvez o texto mais conhecido do livro seja o XIII, o qual as pessoas chamam, comumente, de "Ouvir estrelas":


Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!”  E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...


E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila.  E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.


Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas?  Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”


E eu vos direi:”Amai para entende-las!
Pois  quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas”.

Parece-me que ele se tornou mesmo o carro-chefe, dentre os 35 sonetos que compõem a publicação. Nele, acompanhamos o diálogo entre o eu-lírico e seu interlocutor, que não entende como é possível alguém "ouvir estrelas". A resposta para este questionamento é simples: só os amantes podem "ouvir e entender as estrelas". 
A leveza dos termos escolhidos ("pálio", "cintila"), parece vir ao encontro do tema "aéreo" proposto. Esta simbiose, mesclada às rimas ricas e às aliterações transportam o leitor, com delicadeza, a outro plano (à Via-Láctea?). 
E, aqueles que desejarem dizer o soneto em voz alta, têm algumas opções. O ritmo de leitura pode obedecer a métrica utilizada (a força está na última sílaba tônica de cada verso). Acredito que esta seja a maneira mais adequada de se falar o texto, tendo em vista que estamos falando de um poema, como uma estrutura pensada para o gênero. O autor, entretanto, escreve com tanta naturalidade que, facilmente, caímos na tentação sucumbir a uma levada de prosa. 
Há muito se atribui boa parte da iluminação bilaquiana a uma senhora de nome Amélia. Era ela irmã de Alberto de Oliveira, grande amigo do "Príncipe". Diz-se que Olavo Bilac e Amélia se amavam profundamente, mas foram impedidos de concretizar seu amor, por conta de convenções sociais. Foi-se a história dos dois, ficaram os poemas. Sorte nossa!

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