Os
parnasianos já foram bastante criticados por muitos, por manterem preocupações
demasiadas em relação à forma dos seus poemas, em detrimento do conteúdo. Em
parte tal afirmação procede, quando lemos, por exemplo, Vaso Chinês, do Alberto de
Oliveira. No entanto, ao nos deparamos com certos textos de Olavo Bilac, por
exemplo, percebemos que o Parnasianismo pode ir além de meras descrições de
objetos e descobrimos o porquê de Bilac receber a alcunha de "Príncipe dos
poetas". O livro Via-Láctea mostra
bem essa ideia. É claro que, nele, certos preceitos parnasianos estão presentes:
a obra é de sonetos (uma poética forma clássica), há a presença de versos
decassílabos etc. Mas a monotonia de um vaso sobre uma cômoda dá lugar a momentos
de inspiração e beleza, com a ótima combinação de palavras, característica de
Bilac.
Talvez
o texto mais conhecido do livro seja o XIII, o qual as pessoas chamam,
comumente, de "Ouvir estrelas":
Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”
E eu vos direi:”Amai para entende-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas”.
Parece-me que ele se
tornou mesmo o carro-chefe, dentre os 35 sonetos que compõem a publicação. Nele,
acompanhamos o diálogo entre o eu-lírico e seu interlocutor, que não entende
como é possível alguém "ouvir estrelas". A resposta para este
questionamento é simples: só os amantes podem "ouvir e entender as
estrelas".
A
leveza dos termos escolhidos ("pálio", "cintila"), parece
vir ao encontro do tema "aéreo" proposto. Esta simbiose, mesclada às
rimas ricas e às aliterações transportam o leitor, com delicadeza, a outro
plano (à Via-Láctea?).
E,
aqueles que desejarem dizer o soneto em voz alta, têm algumas opções. O ritmo
de leitura pode obedecer a métrica utilizada (a força está na última sílaba
tônica de cada verso). Acredito que esta seja a maneira mais adequada de se
falar o texto, tendo em vista que estamos falando de um poema, como uma
estrutura pensada para o gênero. O autor, entretanto, escreve com tanta
naturalidade que, facilmente, caímos na tentação sucumbir a uma levada de
prosa.
Há
muito se atribui boa parte da iluminação bilaquiana a uma senhora de nome
Amélia. Era ela irmã de Alberto de Oliveira, grande amigo do "Príncipe".
Diz-se que Olavo Bilac e Amélia se amavam profundamente, mas foram impedidos de
concretizar seu amor, por conta de convenções sociais. Foi-se a história
dos dois, ficaram os poemas. Sorte nossa!
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