sexta-feira, 8 de julho de 2011

O reacionário

Por favor, não leias! Este é o conselho que te dou. Já li coisa que não devia. E me arrependo. Tudo bem que isso foi em uma época em que não havia alguém que me conduzisse para o que é bom. Foi a duras penas que consegui, aos 18, chegar a Machado. A maturidade, finalmente, adquirida.
Tu, leitora, no entanto, tens uma vantagem: esta humilde e reacionária pessoa que escreve. Não permitirei que percas horas preciosas com simples aglomerados de papel debaixo do braço, andando para lá e para cá. O livro não foi inventado para isso. Vejo populares, sentado nos cafés, com publicações da moda, inocentemente, procurando mostrar certa erudição. A intenção do livro nunca é de ser levado – apesar da sua praticidade – e sim de levar.
O que é ruim não (se) leva a lugar algum. Por isso, leitora, evita histórias que deixam um suspense para ser desvendado no final. Uma amiga leu, começou a contar-te o enredo e aí tu disseste: “Ai, não contes o fim, tá?” A questão é que, se uma trama é bem engendrada, o fim pouco interessa. Inclusive, às vezes ficamos a tal ponto absorvidos com o durante de uma leitura que não queremos que o depois chegue logo. Na literatura, o fim não justifica os meios.
Procura, então, um livro que te surpreenda com palavras. Sem que tu esperes, aparece, por exemplo, um “teadorar”. Com angústia tu descobres que tal verbo não existe, mesmo com toda a força de teu Aurélio. Se tu, de repente, então, sentires que o chão te escapa, podes ficar feliz, pois o desequilíbrio é um passo importante para quem deseja ser bom leitor. Os eternamente equilibrados têm menos possibilidades de enxergar o mundo de posições alternativas: laterais, invertidas, aéreas.
Não leias, enfim! E se este recado chegou tarde para ti, tens ainda uma saída, ainda que pequena e distante. Corre! Foge dos livros desesperadamente, sem olhar para trás. Eles talvez te perseguirão por um tempo. Baterão a tua porta, chamar-te-ão no supermercado, farão ligações perturbadoras. Atende somente os que não disserem verdade. Leitura é dúvida.

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